Tuesday, March 27, 2007

charles

"um título. minha cabeça estava vazia. estava ficando frio. sendo macaco velho, achei melhor pegar meu casaco. desci pela escada rolante do 4º andar. quem inventou a escada rolante? degraus que se movem. e depois falam de loucura. pessoas subindo e descendo em escadas rolantes, elevadores, dirigindo carros, tendo portas de garagem que se abrem ao tocar de um botão. depois elas vão pra academia queimar a gordura. daqui a 4.000 anos, não teremos pernas, nos arrastaremos sobre nossas bundas, ou talvez só rolemos como tumberweeds*. cada espécie destrói a si mesma. o que matou os dinossauros foi que eles comeram tudo à sua volta e depois tiveram que comer uns aos outros e com isso só restou um e o filho da puta morreu de fome."

*tumberweeds são aqueles arbustos secos que rolam com o vento pelos desertos

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o velho buk, amigos.
seco e direto.

acho esse um dos melhores parágrafos que já li dele.

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a quem se interessar, é do livro:
"o capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio" - charles bukowski.

Thursday, March 22, 2007

henry

abri a porta com pouca força. estranho, ela tem costumado emperrar... vai entender, essa coisas de hoje em dia funcionam e param de funcionar sem motivos, não tenho saco pra tentar entender isso.
ligo a luz da sala, ligo o som, o ventilador, abro a geladeira - na busca "daquela" cerveja - e me sento no sofá.
um, dois, três, quatro cigarros... meu deus, preciso parar. não, parar não, mas quem sabe diminuir. as escadas estão mais longas, os dias mais curtos, agora não contabilizados em horas, mas em tragos. esse é meu tempo agora, "vou embora daqui a 3 cigarros". foda.

vou ao banheiro, me olho no espelho, levanto o queixo e faço uma cara de dor. ainda sangra. merda de adolescentes, sempre arranjando brigas em bar. eu sempre me fodo nessas confusões, sempre sobra pra mim e dessa vez não tive nada a ver com a história, juro.
uma vez tive uma namorada que acreditava em signos, astros, essas merdas. um dia ela me disse que, segundo os planetas, eu estava entrando no meu inferno astral. não dei bola pra isso. duas semanas depois ela foi embora com o vizinho de cima - ele levou oito discos meus, filho da puta - e nunca mais deu notícias. isso foi a doze anos atrás. ela nunca me avisou quando esse inferno astral ia acabar. eu vivo com ele.

são três da madrugada. devo estar acordando daqui a quatro horas, isso se eu pular o café da manhã e sair correndo de casa, se meu carro pegar de primeira, se não der qualquer merda no meio do caminho, isso tudo pra chegar na hora lá no escritório.
emprego de merda.
de oito da manhã à seis da tarde, vinte e cinco cigarros, isso quando consigo tempo pra dar aquela voltinha no quintal, beber um cafézinho, olhar pro céu e imaginar o mundo lá fora. mexo o copo de café como se fosse de uisque e seguro o cigarro como se fosse um charuto. imagem ridícula, uma velho de 56 anos brincando nos fundos do local de trabalho.

eu queria ser cantor, um daqueles com a voz macia, deslizando os dedos pelas teclas de um piano preto, num bar silencioso.

passaram vinte minutos, alguém bate na janela, estão me chamando. jogo o terceiro cigarro no chão, piso, olho pro céu azul sem nuvens, meus olhos dóem,
é a idade.
abro a porta, um garotão de vinte e cinco anos sai pra fumar. quis perguntar qual era o sonho dele, mas ia ser uma pergunta idiota demais. desisto.
subo. o dever me chama.

Tuesday, March 13, 2007

em homenagem.

a hora é boa pra escrever aquele samba.

Wednesday, March 07, 2007

nota

eu não mereço o silêncio.

[nem as costas]

Tuesday, March 06, 2007

between the bars

janela aberta

ela era uma puta alta, negra, de olhos fundos, peitos medianos e bunda dura chamada michele. "puta mesmo", tinha orgulho de dizer, sempre avançando, com sua bolsa rodando, pros playboys que param o carro pra fazer alguma graça.
o turno era o da noite. dava mais grana, o nível era mais alto e além do mais, passar a tarde na praça dando para bêbados a deixava sempre com um nojo maior que o normal de seus clientes, além dos calotes, universitários que cabulavam aula, brigas de marido e mulher em motel de quinta categoria, era sempre tudo muito bizarro.
a noite não... nada disso, só tinha playboy, dotô [sic] advogado, todos perfumados cheirosos com as unhas feitas que brilhavam. sempre ia pra motéis com cama redonda e banheira de hidro e tinha já conseguido, em uma semana, clientes fiéis - fidelidade não era exatamente uma característica do mercado, entende?
numa noite, michele, como de praxe, vestia seu vestido curto e usava batom forte - rosa. parada na esquina, esperando qualquer coisa, vê um sujeito do outro lado da rua. baixo, moreno, mãos cansadas, magro que doía, fumando cigarro barato e cospindo no chão. seu nome era roberval, ela descobriu 5 minutos depois.
hoje michele é mãe de três. roberval júnior, roberlene e roberlino - sendo roberlene e roberlino irmãos gêmeos - e os nomes, quem deu foi o pai das crianças, que não foi contestado pela mulher em momento algum.
sorrindente, michele lavava os pratos, de frente pra janela.


Sunday, March 04, 2007

com açucar e com afeto

eu não canto em playback.
nem a pau.

Saturday, March 03, 2007

#1

_uma lobotomia, por favor.

_a chuva me dá vontade de deitar na rede e balançar.

_hoje aluguei 4 filmes.

_preciso mudar a rotina. voltar às aulas, aos restaurantes self-services e quem sabe fazer algum exercício.

_eu já pedi uma lobotomia hoje?

_meu carro nunca mais ficou na reserva, mas ainda continua morrendo pelas esquinas.

_uma palpitação em falso e me perfuro com uma costela.

_work, work, work.

_a minha janela tem sido minha tevê. [cadê a porra do controle remoto?]

_on the road do jack kerouac tá me dando idéias demais. demais.