bang!
olha prum lado, pro outro, mão sobre o peito, o sangue descendo e o pavor nos olhos. sabia, sabia que isso ia acontecer, viu o cara na esquina de bobeira, de boné, mãos no bolso, sabia que o cruzamento era perigoso, perto da favela, mas não, não ia seguir preconceitos, estatísticas, queria ser ético demais. o pobre. agora lá, sangrando sobre o banco cinza de um carro velho. olhou pela janela e viu o sujeito olhando pra ele, andando devagar, era tarde da noite, um quarteirão de casa, não tinha força pra pisar no pedal do acelerador.
bang!
não acreditava. a mão no peito era por puro reflexo, o estrago tava feito. costelas bem cuidadas por anos, agora quebradas. o que não importava, de qualquer forma, que se danem as costelas, elas não iam ter mais função em minutos, sabia disso.
bang!
"porra! rouba logo essa merda de carro, filho da puta. pega a grana, relógio, celular, o que for, mas para de apertar essa merda de gatilho."
bang!
bang!
olhos arregalados, dentes quebrados no choque contra o volante, sangue por todo canto, curiosos começam a chegar, cada um com sua versão dos fatos, mas o negócio é que na hora mesmo não tinha ninguém por perto. se tinha, correu de susto. claro.
na esquina alguém dobra e some.
de diferente, as cinco balas a menos no tambor do revólver.
Wednesday, October 17, 2007
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4 comments:
Precisa bater na porta pra entrar? Desculpe não ter pedido seu consentimento pra bisbilhotar seu blog, desculpe o modo descortês, mas... (rsrsrs) é que preciso falar.
Descobri você da forma mais imprevista possível: lendo-o.
Uma surpresa empolgante – ou já seria prevista?
Bom, o fato é que me identifico com o seu olhar sobre as sutilezas do cotidiano e essa necessidade de tornar os detalhes sem importância em algo tridimensional, palpável - esse cotidiano relutante – tirá-lo da monotonia através do olhar que descortina o que está tão habituado a ver, mas sentir sempre diferente (como a água corrente de um rio, que é aparentemente a mesma, mas que desliza sempre outra).
Então, desejo ouvir sua boca proferir tais delicadezas e desejo com mais veemência, que permaneça com esse olhar pueril, um “olhar estrangeiro”.
quem morreu?
rs
gostei, gostei :}
:*
vaaaaalha.
matador!
=D
ai dentro raquel
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