e ela abria sempre um olho de cada vez,
esticava as pernas, ensaiava uma cãimbra.
sorria sempre que sentia vontade.
pro espelho, pro cachorro, pro rádio relógio,
sempre dava bom dia.
dormia de meias e calçava os chinelos de dedo,
andava se arrastando pela casa, procurando o que comer,
passando os dedos pela porta da geladeira,
pensa no paquera de ontem, dá uma risada baixa,
tinha corado, de vergonha.
coloca a unha entre os dentes, olha pela janela,
procura algo do lado de fora, olha para o céu,
pra copa das árvores e desvia o olhar do sol.
ouve um ruído do rádio da vizinha, é música sertaneja,
tem certeza.
olha o relógio, quinze pras oito.
dá passos ligeiros pro quarto, tira uma roupa clara do cabide,
coloca um batom rosa, pouco perfume e prende o cabelo.
- preciso pagar as minhas contas.
e sai de casa, sem olhar pra trás.
Friday, February 23, 2007
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4 comments:
mas ela sorri, ao menos. porque há desses que já se perderam na própria melancolia.
[tava com muito mais saudade dos teus escritos do que eu conseguia lembrar.]
beijos, meu bem.
as risadas baixas e ensimesmadas são geralmente as melhores. belo texto. o lance é recomeçar e escrever. sempre, sempre.
quando partiu, levava as mãos no bolso, a cabeça erguida. não olhava pra trás, porque olhar pra trás era uma maneira de ficar num pedaço qualquer para partir incompleto, ficado meio pra trás. não olhava, pois, e pois não ficava. completo partiu.
me lembrou esse trecho de conto do caio fernando abreu. acho que tu devia ler. tem tudo a ver contigo. beijos e boa semana.
hoje eu procurei pelo caio na livraria.
sem sucesso.
segunda eu pego ele. pode deixar.
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